Cris, Mindlin, Cagnin e o Rosa
"O senhor sabe o
que o silêncio é? É a gente mesmo, demais."
Grande Sertão Veredas
Em meditativo post, no
Face Book, a poetisa Cris Days, minha amiga, fez-me lembrar uma historinha que
vivi.
Aconteceu quando fui
visitar o “Seu José”, como preferia ser tratado o Dr. José Mindlin, que foi repórter,
advogado, empresário, escritor e o maior bibliófilo de nosso país, a quem fui
conhecer levado pelo insuperável professor de comunicação e mestre em semiótica
Antonio Cagnin, para fotografarmos a primeira revista infantil do Brasil, O
Tico-Tico número 1, de 1905. Na famosa biblioteca climatizada e subterrânea do
respeitado colecionador de livros e mapas cartográficos históricos, para o mais
grandioso livro da Opera Grahica Editora.
Pois... Era o ano de 2015. Seu José
estava particularmente muito feliz naquela manhã. Acabava de adquirir os
“manuscritos” originais de Grande Sertão de Guimarães Rosa.
E, não mais que de
repente, o mestre dos livros passou-me a pasta de cartolina, que protegia um
pequeno calhamaço de folhas bastante amareladas, para eu folhear. Toda
datilografada. Marcada fortemente pelos tipos mecânicos da máquina de escrever.
E, o novo dono daquelas histórica folhas, apontava alegremente as correções
feitas à mão, pelo notório Rosa, mudando o nome de um personagem para Manelão. Dos
mais famoso de seus protagonistas e dos mais importantes de nossa literatura.
Mestre Mindlin sentou
em sua confortável poltrona de leitura, com espaço para dois. E me convidou
para o seu lado direito, e ali ler aquela página, explicando que infelizmente
não mais enxergava como antes. Cagnin sorria, de seu jeito característico e seu
inesquecível olhar de menino travesso, mantido aos setenta e poucos...
Mal balbuciei gaguejante
algumas palavras escritas pelo Rosa, sendo prontamente socorrido pela filha de “Seu
José”, que interpretou gloriosamente aquela notável escrita. Não lembro, mas
com certeza dormi muito mais feliz naquela noite.
Nenhum comentário:
Postar um comentário