quinta-feira, 11 de maio de 2017

Cris, Mindlin, Cagnin e o Rosa

"O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais."

Grande Sertão Veredas

Em meditativo post, no Face Book, a poetisa Cris Days, minha amiga, fez-me lembrar uma historinha que vivi.

Aconteceu quando fui visitar o “Seu José”, como preferia ser tratado o Dr. José Mindlin, que foi repórter, advogado, empresário, escritor e o maior bibliófilo de nosso país, a quem fui conhecer levado pelo insuperável professor de comunicação e mestre em semiótica Antonio Cagnin, para fotografarmos a primeira revista infantil do Brasil, O Tico-Tico número 1, de 1905. Na famosa biblioteca climatizada e subterrânea do respeitado colecionador de livros e mapas cartográficos históricos, para o mais grandioso livro da Opera Grahica Editora.

Pois... Era o ano de 2015. Seu José estava particularmente muito feliz naquela manhã. Acabava de adquirir os “manuscritos” originais de Grande Sertão de Guimarães Rosa.

E, não mais que de repente, o mestre dos livros passou-me a pasta de cartolina, que protegia um pequeno calhamaço de folhas bastante amareladas, para eu folhear. Toda datilografada. Marcada fortemente pelos tipos mecânicos da máquina de escrever. E, o novo dono daquelas histórica folhas, apontava alegremente as correções feitas à mão, pelo notório Rosa, mudando o nome de um personagem para Manelão. Dos mais famoso de seus protagonistas e dos mais importantes de nossa literatura.

Mestre Mindlin sentou em sua confortável poltrona de leitura, com espaço para dois. E me convidou para o seu lado direito, e ali ler aquela página, explicando que infelizmente não mais enxergava como antes. Cagnin sorria, de seu jeito característico e seu inesquecível olhar de menino travesso, mantido aos setenta e poucos...


Mal balbuciei gaguejante algumas palavras escritas pelo Rosa, sendo prontamente socorrido pela filha de “Seu José”, que interpretou gloriosamente aquela notável escrita. Não lembro, mas com certeza dormi muito mais feliz naquela noite. 

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