Curitiba e os bons
quadrinhos
Por Franco de Rosa
Também escrevi artigos sobre quadrinhos para
jornais de Curitiba. Para O Estado do Paraná e Correio de Notícias. Pouca
coisa. Publiquei tiras diárias na Gazeta do Povo. Na Gazeta, eu levava as tiras
a cada três meses. E ontem, último dia de minha mais recente estada na cidade,
era segunda de manhã e chovia. Nostalgicamente, voltei aos idos de 1977/78,
quando publicava minha tira diária do Chucrutz na Gazeta do povo. Eu sempre ia
em segundas feiras. Quase sempre chegava na cidade debaixo de chuva.
Chegava cedo. Saia de São Paulo no último ônibus. Levava-se quase sete
horas de viagem. A pessoa que recebia meus trabalhos, o editor, só chegava na
redação as 15 horas. Ele também tratava de fazer meu pagamento. Eu ia a cada
dois meses. Ficava andando a pé, da Roviária ao centro da cidade. Passeava
buscando conhecer as ruas de acordo com os nomes descritos no livro O Vampiro
de Curitiba, de Dalton Trevisan. Quase sempre acabava indo parar em lugares
afamados. Becos, botecos, sinucas, sapatarias e barbearias. Até pontos de baixo
meretrício.
Naquela época haviam os cinemas pulgueiros, que iniciavam as seções as
10 da manhã. Quase sempre com filmes de King Fu. Eram seções corridas, com uns
4 filmes diferentes rolando por dia.
Lembro de um filme brasileiro, em particular, estrelado por Tony Vieira
e Claudete Joubert, devido a uma passagem pitoresca. Entrei com a fita já
começada. Chovia muito e a sala estava bem cheia. Dava para perceber, nas cenas
externas, pela imensa quantidade de pedras grandes e pelo terreno montanhoso,
que o filme havia sido rodado em Itu. Estava acontecendo um bang bang entre
dois grupos. Era um faroeste feijoada como apelidaram, aquele gênero brasileiro
gerado na Boca do Lixo.
Pois acontecia de um cara ou outro atirar. E estourar uma lasca de pedra, como os efeitos especiais determinaram. Porém, quando um dos caras saiu de trás de uma pedra, uma lasca estourou de repente. Antes do tempo. Irritado, o artista em vez de se ocultar atrás da pedra, apontou o dedo para alguém próximo da câmera e gritou, "ô, viado!". O fato valeu o dia.
Estando em Curitiba, eu costumava comer, na hora do almoço, uma pizza de
massa grossa, vendida aos pedaços, bem servidos, em um boteco que não existe
mais, na Praça Tiradentes.
Eu publicava tiras na Gazeta, e escrevia artigos sobre quadrinhos e
desenho animado para o concorrente, O Estado do Paraná, cuja redação ficava
próxima a um pioneiro grupo escolar. Inclusive cheguei a assistir um ensaio de
parada de 7 de setembro, dentro desse local. Curiosamente, recordo agora que
cheguei a estar em Curitiba várias vezes em nos dias 7 de setembro. E também
chovia. A última vez foi na Bienal de Quadrinhos de 2014, onde tive a honra de
beber caipirinha ao lado de David Lloyd.
Mas, no jornal o Estado do Paraná eu publiquei um artigo de página
inteira sobre o longa de animação canadense Heavy Metal- Universo em Fantasia,
dirigido por Gerad Potterton. Com ajuda de Paulo Nery de Lima, que, como
eu, também era autor da Grafipar. Ele me ditou vários trechos do artigo, de uma
revista gringa. Para ampliar a matéria. Que foi bem completa, graças ao vasto
material de divulgação fornecido pela distribuidora do filme. Tinhamos ali uma
obra realmente muito importante. (leia o artigo aqui no blog).
Antes do filme chegar ao Brasil, eu já havia adquirido sua trilha sonora
em Curitiba mesmo, em uma loja de LPS importados que havia ao lado da
revistaria do Melo, dentro de uma galeria subterrânea, que existe, próxima, da
catedral da cidade. Este disco duplo, em vinil, não saia de meu pic-up, por
décadas.
Ocorreu, com este artigo, algo interessante. Ele foi publicado poucos
dias depois da estreia do longa. Mas foi muito bem diagramado. Com um desenho
do Moebius enorme no centro da página. Foi matéria de página inteira, na última
"capa". O resultado é que o filme ficou uma semana a mais em cartaz.
Coisa incomum.
Este artigo eu publiquei integralmente no especial que editei para a
Grafipar, Xanadú. Com a historieta homônima, escrita e desenhada pelo meu
compadre Watson Portela. Cuja arte-final eu realizei.
E hoje, para meu orgulho, Rafael Portela, meu afilhado, nascido em
Curitiba, filho de Watson, está desenhando pela primeira vez um roteiro meu.
Diretamente de Recife, onde mora atualmente.
Muito bacana suas lembranças de Curitiba, meu amigo! Algumas eu pude compartilhar, como o lançamento do filme animado "Heavy Metal - Universo em fantasia - em 1982. Realmente, vc amava aquela trilha sonora! lembro bem do artigo que escreveu, e tenho inclusive a revista Xanadu, onde também saiu publicado.
ResponderExcluirGustavo Machado