quinta-feira, 7 de março de 2019


Quadrinhos | Operação Jovem Guarda
por Presto Gaudio | 07 /06/ 2017 | Quadrinhos


Quem acompanha quadrinhos já conhece os ciclos criativos da nona arte, de tempos em tempos existe uma onda de novidades que costuma mudar o status quo. Uma dessas ondas ocorreu no fim da década de 1950, mas teve seu auge nos anos 60. É o período dos novos Flash e Lanterna Verde na Dc e o início da Marvel como a conhecemos atualmente.

O retorno da febre dos heróis cruzou fronteiras e chegou no Brasil, motivado pelas revistas em quadrinhos publicadas pelo posto Shell e pelos desenhos “desanimados”, ambos da Marvel, uma crescente produção nacional criou diversos heróis, muitos já esquecidos, mas alguns sobrevivem na memória dos seus fãs. Foi nessa época que Rubens Cordeiro criou para a Editora Graúna:Mystiko, Homem Fera e Golden Guitar.



Embora os personagens não tenham vingado por muito tempo, seus conceitos eram interessantes e muito marcados pela sua época: poderes místicos, psicodélicos, vindos da natureza ou do rock, os personagens foram relembrados nessa publicação da Ópera Gráfica que traz uma história inédita feita pelo próprio Rubens Cordeiro em 2004.

A revista é dividida em três capítulos, cada um correspondendo a um dos personagens citados acima, mas, ainda que eles não interajam diretamente, compõe uma história única. Acompanhamos uma trama bem inocente com um adolescente voltando no tempo para descobrir quem é o seu pai. Algumas referências à De Volta para o Futuro como o nome Martin do protagonista, mas o que mais se destaca é o traço que emula as revistas da época da Jovem Guarda e muita, mas muita gíria.

O volume é complementado com uma interessante pesquisa abrindo a edição feita por Toni Rodrigues, na qual ele nos conta detalhes da trajetória profissional de Rubens. E finaliza com um artigo de Roberto Guedes, no qual ele resgata um pouco do espírito da época, remontando alguns eventos que contribuiriam para criar o cenário dos personagens dessa revista.

Enfim, uma publicação bastante interessante da Ópera Graphica que traz ao leitor atual um pouco do panorama editorial da década de 1960 que ainda é desconhecido de muitos fãs de quadrinhos. Publicado no formato Magazine, a edição é uma boa pedida para saudosistas e para aqueles que sempre tiveram interesse em conhecer mais personagens brasileiros. Além disso, ela acaba deixando aquela pontinha de curiosidade em relação às edições originais desses heróis, será que não rolaria um encadernado com elas?


fonte:
http://tapiocamecanica.com.br/on/quadrinhos-operacao-jovem-guarda/

Ultraboy

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

sábado, 9 de setembro de 2017

Jogo das 3 diferenças


Versão sem censura da arte do Facebook..nada de mais...só uns tracinhos bem posicionados.


versão sem censura

versão politicamente correta para o Face Book



segunda-feira, 14 de agosto de 2017






No Princípio Era...


Tudo começou com Getúlio Vargas, ditador de 1930 até 1945, e que
em 1950, se elegeu pelas urnas, democraticamente, Presidente da
República. Iniciou um processo de tirar a primazia das oligarquias que
comandavam os jornais, revistas, rádios e TVs. Samuel Wainer iniciou a
rede de jornais Última Hora, em 1951. E Vitor Costa, em 1954, depois de
uma carreira vitoriosa na Rádio Nacional do Rio, onde começou como
contrarregra, adquiriu a Rádio Mayrink Veiga na então Capital Federal.
Começou a Organização Vitor Costa comprando a Rádio Nacional de
S.Paulo, a TV Paulista canal 5 e a Rádio Excelsior. Esta tinha a concessão
da futura TV Excelsior.
O exportador de café José Luís Moura queria ter uma televisão na sua
cidade, Santos. Associou-se a Vitor Costa. Adquiriu um material usado
DuMont, no México. Segundo os técnicos, sucata. Moura criou a Rebratel,
uma firma fabricante de equipamentos para televisão, com escritório
em São Paulo, na Rua Cardeal Arcoverde, entre dois cemitérios.
Quando o presidente Juscelino Kubitschek foi participar de um almoço
no então chiquérrimo Parque Balneário de Santos, Moura preparou
uma recepção e transmissão com as câmeras da TV Excelsior. Pouco
antes, iniciara uma precária transmissão experimental. Pediu a Vitor
Costa elementos da OVC para prepararem o terreno na Baixada Santista.
Vitor ofereceu o grande radialista Rebelo Júnior, o homem do
goooooool inconfundível, que fazia parte da cúpula diretiva, com
Dario de Almeida, Raul Guastini e outros, e formou uma pequena equipe.
Entre os quais, escolheu Álvaro de Moya para ficar alguns dias no
Hotel Atlântico, com a família. Moura tinha como amigo e conselheiro,
um advogado jornalista que tinha uma coluna política n’A Tribuna de
Santos, Saulo Ramos.
Eu descia para Santos com o Rebelo, dirigindo um Chevrolet, apavorado.
Ele sofria de uma doença do sono que o fazia, por frações de

segundos, adormentar. Estava falando, e eu de olho. De repente, o
charuto pendia de sua boca, eu esticava a mão e segurava o volante,
nas curvas da Via Anchieta. Rebelo acordava e continuava a falar a
mesma frase que interrompera. E me dava uma bronca, por tirar a
mão da direção. Não tinha a menor noção dos momentos de soneca.
Churchill era assim também.
José Luís Moura era um homem de negócios, um empresário bem-
-sucedido e achava que Vitor Costa tinha os mesmos defeitos dos
homens que vieram do rádio e dirigiam televisão. Pensava algo mais
profissional, menos amadorístico, mais empresarial. Pensava em filmes.
Enlatados, como nós, profissionais da época lutando contra a produção
hollywoodiana classe D, dublada em português.
Desde Rin-Tin-Tin e Papai Sabe Tudo, esses enlatados ocupavam espaço
nos dez programas mais vistos da televisão brasileira.
O jornalista João de Scantimburgo, proprietário do centenário periódico
Correio Paulistano – que ficava como uma bela coincidência,
na Rua Líbero Badaró, homenagem ao jornalista assassinado por
sua luta pela liberdade de expressão – aproximou Moura de outro
empresário do café: Mario Wallace Simonsen. João de Scantimburgo
ficou como presidente.
Mário também era exportador de café, também tinha uma empresa fabricante
de equipamentos de TV, além de um aparelho receptor de TV,
All Aces. Era representante da Marconi inglesa e tinha feito a primeira
rede ao transmitir a inauguração da nova capital no dia 21 de abril de
1960 Brasília/Belo Horizonte/Rio/S. Paulo. Moura sabia que Mário era
um gigante na área. Tinha cerca de cinquenta empresas sediadas em
Zurique, na Suíça, a Wasim, Comal no Brasil. Era o homem que conhecia
o mercado internacional como a palma da mão. E socorria o governo
brasileiro, sempre inepto para cuidar do principal produto, até então,
de exportação do Brasil, o café. Simonsen comprou a parte de Vitor
Costa na TV Excelsior. Ele também pensava em rede.

Queria ser a AT&T do Brasil, antevendo a Embratel, beneficiando todas
emissoras a formarem redes nacionais. A unificação do Brasil, ele era
um nacionalista convicto, querendo romper o nosso atraso.
Havia uma campanha contra ele em diversos setores. E havia muitas
lendas. Ou verdades. Comprou um quarteirão em Lisboa, uma partida
de azeitonas gregas num porto europeu, uma rede de mercados na
Alemanha, etc. Mas era verdade que, com seu senso de modernizar o
nosso país, lançou a rede Peg-Pag, o primeiro supermercado nacional,
com dois endereços: um na Consolação, esquina com a Paulista e outro
na Gabriel Monteiro da Silva. Hoje, esses mercados estão com o Pão
de Açúcar.
Coerente com sua conduta honesta em relação ao regime democrático,
Simonsen resolveu apoiar Juscelino, usando a TV Excelsior para eleger o
candidato da situação, marechal Teixeira Lott, um democrata convicto.
Lott, mesmo antes de ser ministro da Guerra de Juscelino, impedira as
tentativas de golpes, que pululavam nos tempos da UDN.
Mas José Luís Moura era janista fanático e queria a Excelsior apoiando
a candidatura de Jânio Quadros. Os dois não chegaram a um acordo
de manter a nova TV simplesmente num momento de escolha democrática.
Moura ofereceu uma quantia para Simonsen e deu prazo para
o dia seguinte até meio dia para uma decisão. Mário, antes do meio
dia, comprou a parte de Moura pelo preço acertado.
A equipe escolhida por Moura estava trabalhando firme. Era o Saulo
Ramos como diretor comercial (depois, ministro da Justiça), o engenheiro
Carlos Paiva Lopes como diretor técnico (depois, presidente da
Ericsson e da Embratel) e o Armando Piovesan como administrador (depois
diretor da Ceasa). Pedimos demissão coletiva. Moura nos garantiu
que Simonsen estava satisfeito com nossos planos e Saulo passou a ter
contato direto com Simonsen. Saulo Ramos, dada sua capacidade, foi
convidado por Jânio para ser seu oficial de gabinete, em Brasília. Eu
assumi, interinamente a direção comercial.


E Saulo reatou Jânio e Simonsen. Nos planos da Excelsior, pela primeira
vez, as vendas eram do departamento comercial, a administração preparava
as condições e o técnico armava a qualidade da transmissão. Mas
todos ficamos de acordo que, quando a TV estivesse no ar, a ligação
da programação com o público telespectador era da direção artística
e este diretor tinha total liberdade de ação quando da transmissão.
Saulo também foi pioneiro na ideia de dividir parte do percentual do
departamento comercial entre nós quatro diretores, cabendo a cada um
0,7% do faturamento bruto. Esse esquema inovador abriu caminho para
Roberto Montoro, Walter Clark, Boni e, posteriormente, Joe Wallach
fazer uma proposta vencedora para Roberto Marinho e estabelecer o
sucesso da Rede Globo.
Ainda sob a direção de Moura, este tinha concordado em deixar a ideia
de filmes e fazer uma televisão nacionalista, como Simonsen. Eu mudei
rapidamente os planos. Tinha convencido Moura, quando duma visita
sua ao governador de S. Paulo, Carvalho Pinto (janista, então), que
deveríamos inaugurar a Excelsior no dia 9 de julho, pois era preciso
marcar que um novo canal iria surgir no dial, o Nove. Ele voltou todo
entusiasmado, dizendo que o governador colocara a inauguração na
festividade oficial, com sua presença no show de estreia.
Assim, pude precipitar o início da nova TV. Dia 9 de julho, no Teatro
Paulo Eiró, uma inauguração tumultuada, exatamente como eu achava
que a televisão não deveria ser. O show, dirigido por Abelardo Figueiredo
era ótimo; seu assistente, o Manoel Carlos era excelente; mas as
condições do teatro eram insuficientes para tal encenação ambiciosa.
O irmão de Mario, Luis, tinha uma loja espetacular, em frente ao teatro,
era representante da Ford, e ofereceu o local para os escritórios e
estúdios. Só que não tinha infraestrutura nenhuma. O Manoel Carlos e
o Jayme Barcelos, que eu tinha convencido a deixar seu talento de ator
por uns tempos, e trabalhar com Saulo no setor de vendas, foram ao
Teatro Cultura Artística e conseguiram o local, com alguns pequenos
problemas.

Ruth Escobar encenava Mãe Coragem, de Bertolt Brecht no grande
auditório e oferecemos uma compensação exagerada para ela encerrar
a temporada. Não ia faturar aquilo nem em um ano. Mas foi bom
para todas as partes.
Convenci Moura que este era o local ideal e esperamos Jardel Filho e
Maria Fernanda terminarem sua temporada no pequeno auditório,
para transformá-lo num estúdio, usando o de cima como auditório
da TV. Os concertos programados pela Sociedade de Cultura Artística
foram mantidos e salvamos a entidade de uma situação difícil, pré-
-falimentar, pois não conseguiam pagar a dívida com a Caixa Econômica,
pela despesa de construção do teatro na Rua Nestor Pestana.
Tornei a mudar os planos da programação, a fim de utilizar esse
belo auditório. O dia 9 tinha sido um fracasso, no meu gosto pessoal,
programei para o dia 31, o último domingo do mês, para confirmar
a iniciação da Excelsior no mês de julho. Então, deu-se à luz. Sempre
gostei de números e o título do show seria Brasil 60. Mal sabia que ia
caracterizar uma década. Seria um programa nacionalista: só música
brasileira. Abelardo objetou que não havia condições de, todos os domingos,
só música brasileira por uma hora. Nada disso, respondi. Uma
hora e meia, das 20h30 às 22h. Impossível. Mesmo misturando com
esses emergentes, a tal de bossa nova? Impossível.
Manoel Carlos sugeriu que ligássemos a música popular brasileira com
o cinema, o teatro, a literatura (sua eterna paixão) e até o futebol.
Entrevistas, humor, variedades, além da música. Maneco assumiu a
produção, eu sugeri alguém inteligente e culta para apresentar: Bibi
Ferreira, que estava no Rio num show, recém-chegada de Portugal.
Um emissário foi convidá-la e ela aceitou, pensando que era apenas
uma apresentação. O primeiro programa, bolado pelo Manoel Carlos,
com minha direção de TV (switcher), com Grande Otelo, Mazzaropi,
Roberto Freire, Caetano Zamma trouxe também Oscarito.

Quando o astro das chanchadas da Atlântida entrou no palco, diante
do auditório lotado com um público mais de teatro (convidados pelo
Maneco), do que auditório de TV, ele fez sinais que estava afônico e
não poderia dar entrevista. Então, pediu um violino para um músico,
uma cadeira, sentou-se, segurou o arco com os dentes numa ponta,
a outra ponta entre os joelhos, pegou o violino nas mãos e tocou O
Tico-Tico no Fubá!
Brasil 60 ficou tão bom que eu saí correndo pelos corredores do teatro
e deveria estar com uma expressão tão feliz que Maria Fernanda,
que tinha terminado seu espetáculo no pequeno auditório, me viu e,
feliz também, embora não tivesse participado da TV, me beijou! Um
beijo de partilha de felicidade, como só os grandes artistas do teatro
vivenciam este momento magno de uma vida.
Decidimos, então, que Brasil 60 seria para sempre. Eu e o advogado do
grupo Simonsen, José Carlos Rao, sobrinho do famoso jurista Vicente
Rao, fomos ao Rio, no Teatro Serrador, contratar Bibi em pleno show.
Ela nos esperaria após o espetáculo para acertar o contrato. Nós chegamos
atrasados e a eterna diva brilhava no pequeno palco. Terminou
sob aplausos e fomos para os bastidores. Ela soube tratar muito bem
de seus interesses e acertou um bom contrato.
Voltamos para a mesa e... Surpresa! Todo mundo se mandara. Nossa
mesa estava à nossa espera, todos os garçons perfilados, a orquestra
tocando música. Envergonhados, engolimos dois bocados e pedimos
a conta. Era cinematográfico. Era o Rio antigo.
Manoel Carlos passou a ser meu assistente, com o sonoplasta da TV
Paulista (quando fizemos diversos teledramas juntos) Vicente Dias
Vieira, que era meu primeiro auxiliar. O Brasil 60, que seria Brasil 61
no ano seguinte, 62... passou a ser a cara da TV Excelsior.
Walter George Durst continuava contratado pela TV Tupi e fazia o excepcional
TV de Vanguarda, o melhor programa da televisão brasileira

e ponto de partida da linguagem nacional, ou do jeitinho nosso de
fazer televisão. Eu tinha supervisionado, produzido (além de adaptar
e dirigir um por mês), o Teledrama 3 Leões na TV Paulista, canal 5,
criado pelo grande Dermival Costalima a fim de concorrer com o teatro
da Tupi. Mas eu e Durst, meu mestre, imitávamos a linguagem dos
grandes escritores e diretores de Hollywood. E buscávamos aproveitar
esses ensinamentos de Hitchcock, Billy Wilder, Orson Welles, Stanley
Kubrick, John Huston, William Wyler, para tentar uma teledramaturgia
brasileira. Durst tinha feito, entre outros espetáculos, o excepcional
Calunga, de Jorge de Lima e eu Clara dos Anjos, de Lima Barreto e
O Cortiço, de Aluizio de Azevedo.
Na Excelsior, imaginei então o Teatro Nove, às segundas-feiras só com
textos nacionais. Gianfrancesco Guarnieri, Roberto Freire, Jorge de
Andrade, Chico de Assis, Vianninha, Walter Negrão e outros autores
escreviam especialmente para o veículo dirigido por Flavio Rangel e
Adhemar Guerra, com Natalia Timberg, Cleyde Yáconis, Rosamaria
Murtinho como atores fixos, e Stênio Garcia, Fúlvio Stefanini, Armando
Bogus, Irina Grecco, Juca de Oliveira, Bentinho, Geraldo Del Rey, Elisio
de Albuquerque, Riva Nimitz, Henrique Cesar e outros, convidados.
A produção e direção de TV era eu que fazia e depois passei para
Roberto Palmari produzir e Reinaldo Boury no switcher. O sucesso foi
tão grande que Saulo Ramos vendeu outro programa do gênero, com
peças internacionais, o Teleteatro Brastemp, produzido por Bibi Ferreira
e dirigido por Antunes Filho, aos sábados.
Esse processo de teleteatro, antes da invasão das telenovelas, atingiria
seu auge com o Teatro 63, de Walter George Durst, Túlio de Lemos e
Roberto Palmari. Eu já não estava mais na Excelsior.
Quando a TV Excelsior completou um ano, o faturamento estava cobrindo
as despesas, graças ao sistema que eu tinha visto na TV norte-
-americana e a qualidade dos elementos do departamento comercial,
o ambiente interno de coleguismo. No dia seguinte, o homem forte
de Simonsen na TV, Paulo Uchoa de Oliveira nos chamou para uma
reunião. Pensamos que era para nos congratular.

Tínhamos ganho três prêmios Roquete Pinto da TV Record, Bibi Ferreira,
Manoel Carlos e Simonetti. Doce ilusão. Era para nos apresentar
mais um diretor. Outro que ficaria entre nós e a cúpula: Lair de Castro
Coti, ex-diretor da McCann-Erickson. Ficamos umas araras. O Armando
Piovesan era quem mais sofria nas mãos do Paulo Uchoa, pois precisava
despachar todo dia com ele. Me avisava: o Paulo mandou despedir,
de novo, a Liba Frydman, eu consertava. Depois, o Orpheu Paraventi
Gregori. Corri para a sala do diretor e expliquei que o trabalho dele era
com o Cinema em Casa, às 23 horas e ficava de madrugada preparando
os filmes do dia seguinte.
Se quisesse, passaria de madrugada e veria a luz da sala de cinema
acesa. Eu sabia que Paulo jamais viria. Ok. Nova chance. Avisava o
Orpheu do perigo e advertia para chegar mais cedo. Até hoje, com
seu jeito de nobre fracassado, Orpheu não acredita. E pensa que ele
vinha mais cedo? Só se fosse para pedir um cigarro, en passant, para
o porteiro. Este, estava certo que o Orpheu era o dono da TV, e não o
Wallinho, que era tímido.
Para exemplificar o ambiente interno da TV Excelsior, vamos à folia!
Todas as noites, uma turma saía pelos restaurantes do Bexiga, começando
pelo Giggeto, ali em frente. E quase morríamos de rir. Jô Soares,
Juca Chaves, Agostinho dos Santos, Roberto Palmari, Carlos Paiva Lopes,
Jaime Barcelos, mas o Manoel Carlos era o mais engraçado de todos.
Às vezes, estava na minha sala, numa reunião importante com gente
de fora e entrava um boy interno, visivelmente ensaiado cuidadosamente
pelo Maneco: “Seu Moya, Seu Manoel Carlos mandou avisar
que (caprichava) o Sr. Luigi Pirandello está na sala dele, esperando
pelo senhor.” Os presentes se levantavam, solícitos, alegando que eu
tinha outros compromissos. Era um amigo tipo Lelio Castro Andrade,
da Livraria Francisco Alves, que editara Eu Sou Pelé, escrito pelo Benedito
Ruy Barbosa. Íamos tomar sorvete na esquina, fazendo algazarra.
Um pedestre nos encontra e pergunta se somos aí da televisão. Queria
fazer uma sugestão para o Cinema em Casa. É comigo mesmo.

O homem trabalhava todos os dias e assistia no seu dia de folga da
semana o filme do dia e notou que estávamos repetindo muito a nacionalidade
naquele dia e que parecia ter terminado o estoque, por
enquanto. Por que não mudar a data? Passa filme italiano noutro dia
e norte-americano naquele. Ótima sugestão. Mudei a programação
do Cinema em Casa.
Dia de festa no Brasil 60, Edson Lopes, o cantor afro-brasileiro, vai
interpretar um número de ópera e trouxe um smoking. Depois do
ensaio no domingo, com o tuxedo no cabide, pergunta para Manoel
Carlos onde pode passar a roupa. Maneco indica minha sala, depois a
do setor de cinema e o insta a pedir para o nobre fracassado Orpheu
passar a roupa. O cantor recebe um sabão. Volta. Reclama com Manoel
Carlos que aquele é um dos diretores. Maneco, matreiro: “Mas você
ofereceu uma gorjeta?” O cantor volta com o smoking e uma nota de
dez na mão...
Como o Paulo Uchoa de Oliveira humilhava muito o Armando Piovesan,
entrei na sala, antes do diretor chegar e troquei as identificações do
intercomunicador. O diretor chega, aperta o botão correspondente e
chama o Armando Piovesan. Pausa. Uma voz inquire: “Dr. Paulo? Aqui
é o Arlindo Partiti no videotape.” Dr. Paulo olha o intercomunicador e
chama Armando pelo telefone. E manda consertar o intercomunicador...
Wallinho Simonsen chega da Europa, todo entusiasmado com Il Gattopardo
de Visconti, e nos reunimos na sala do Dr. Paulo. Pergunto se ele
quer comer algo, mando buscar no Clube Escandinavo, em frente, uns
sanduíches. Enquanto não chegam, montamos uma mesa de pinguepongue
na mesa de reunião da diretoria.
Chegam os sandubas, comilança. Wallinho vai para o Banco Noroeste
eu não deixo limpar a sala. Paulo Uchoa de Oliveira chega e vê a mesa
montada com redes e raquetes, restos de sanduíches e migalhas. Chama
o Armando e pergunta quem fez isso. O filho do dono. (E trate de
engolir seco).

Tassilo Marischka, parente dos produtores austríacos da série de Sissi
com Romy Schneider, era o representante no Brasil da King Features
Syndicate Television, de William Randolph Hearst.
Recebeu desenhos novos do Popeye. Proponho para o José Alcântara
Machado o patrocínio da Ovomaltine, no lugar do espinafre. Ele acha
ótimo e manda a autorização. Dr. Paulo me chama e manda desfazer o
negócio, alegando que o Zé tinha prometido essa verba para os intervalos
comerciais, com lucro líquido para a TV. Não adianta argumentar
que sábado, fim de tarde, meia hora assim vai alavancar a programação
noturna. Ligo para a Alcântara Machado Publicidade. “Zé, você sabe
como é o Paulo Xuca-Xuca. Manda a outra autorização, mesma verba
para intervalos.” Levo a nova autorizacão, Dr. Paulo aprova, eu a jogo
no lixo, compro o Popeye e ponho no ar. Sabia que ele nunca veria a
programação dos sábados.
Esse comportamento, legado dos grandes de Hollywood que, apesar dos
estúdios, conseguiam fazer obras-primas. Tanto que a Caça às Bruxas
chegou à Meca do Cinema e encanou dez, e fez uma lista negra para
escritores, diretores, atores, que marcou para sempre o cinema. Nós
achávamos que poderíamos agir da mesma forma. E eu quase entrei
bem. No caso do Sartre.
O Manoel Carlos tinha dois amigos o Bento Prado Jr. e Roberto Schwarcz,
ambos eram anfitriões e tinham convidado Jean Paul Sartre e Simone
de Beauvoir para virem ao Brasil e ofereceram uma entrevista na TV.
Eu era fã dos dois. OK. Sartre fala para Jorge Amado que vai dar uma
entrevista na televisão brasileira. O escritor brasileiro o dissuade, Sartre
exige as perguntas, acha que são boas e decide dar a entrevista. E eu
quase fui despedido.
Quando o Walter Avancini era líder sindical conseguiu, pela primeira
vez na história do rádio e TV, uma greve geral.Fiquei na corda bamba.
Era a favor da greve, mas era também diretor. Meus amigos comunistas
me pediam para tomar cuidado. Pouco antes da greve, a Excelsior tinha
dado aumento para os funcionários.

Não havia clima, dentro da nossa TV para adesão. O ambiente aqui era
tão bom que a equipe se achava diferente da maneira como tinham
sido tratados noutras estações de TV e rádio.
Dr. Paulo reunia-se no Convênio – uma sigla ilegal e imoral em que os
donos das rádios e TVs bloqueavam aumentos e evitavam que artistas
saíssem de um canal para outro. Havia um teto que impedia o progresso
profissional e artístico do meio. Edson Leite dinamitou isso. Mas, na
época da greve geral, era um impasse. O que fazer? Aproveitei-me da
ingenuidade do Dr. Paulo e disse a ele que seria injusto para com os
donos das outras TVs, justo a Excelsior ficar no ar. Se ela ficasse sozinha,
todos os telespectadores sintonizariam a nossa emissora prejudicando
as deles. Pensei, como diretor, que seria uma boa dar uma lição nos
patrões roubando a audiência, pelo menos durante a greve. Mas minha
convicção que a parede deveria vencer, conforme meus princípios,
falou mais alto.
Matreiramente, convenci o Dr. Paulo de que, em solidariedade aos
colegas, ele, num gesto nobre, tirasse a Excelsior do ar. Edmundo Monteiro,
Dario de Almeida, Paulo Machado de Carvalho tiraram o chapéu
para o nobre colega e agradeceram o beau geste.
Eu, aproveitei o convite de um anunciante e fui passar uns dias de férias
em Campos de Jordão, hóspede do prefeito.

Álvaro de Moya - extrato do livro Glória In Excelcior.

quinta-feira, 8 de junho de 2017


Ilustras feitas em aquarela para o livro Em Alto e Bom Som, da Editora Laços